sábado, 9 de abril de 2011

Cantor popular

Apesar do exemplo isolado do mulato carioca Domingos Caldas Barbosa que, a partir de 1763, surgiu em Portugal cantando modinhas e lundus de sua autoria, ao som de uma viola de cordas de arame, a figura do cantor de música popular produzida para a gente das cidades só apareceu no Brasil em meados do séc. XIX.

Aqui cabe também uma descoberta recente (e que, certamente as mulheres vão adorar, quando uma mulata armará controvérsias de quem era "popular") de uma moça denominada "Lapinha", e batizada pelo nome de Joaquina Maria da Conceição Lapa, cantora, que viveu no Rio de Janeiro, entre fins do séc. XVIII e inícios do séc. XIX  e que foi uma espécie de "Carmen Miranda" naqueles tempos:

"A Gazeta, de Lisboa, Portugal, noticia a sua apresentação no Porto, Portugal, em concertos realizados nos dias 27 de dezembro de 1794 e 3 de janeiro de 1795. O mesmo jornal, exaltando as qualidades excepcionais da cantora, dá notícia do concerto que se realizaria no Teatro São Carlos, de Lisboa, no dia 24 de janeiro de 1795.

"A célebre cantora americana", como a ela se referem as notícias da época, exibiu-se ainda em Coimbra, Portugal, onde foi alvo de grandes homenagens prestadas pelos estudantes da universidade
".

Inicialmente identificados com os boêmios tocadores de violão, intérpretes de modinhas românticas em sonoras passeatas noturnas chamadas serenatas e, depois, serestas (das quais vieram os nomes serenateiros, serenatistas e, finalmente, seresteiros), tais cantores da futura música de massa evoluíram para o profissionalismo, primeiro por meio do teatro musicado (caso do baiano Xisto Bahia) e, depois, a partir de 1902, através do disco de gramofone (elétrico desde 1927) e do rádio de válvulas com alto-falante.

Recrutados até na área do circo (quatro dos primeiros grandes nomes do disco — Mário Pinheiro, Eduardo das Neves, Campos e Benjamim de Oliveira — foram palhaços- músicos-cantores) e, logo, no teatro de revistas (como Os Geraldos, Pepa Delgado, César Nunes, Abigail Maia e Vicente Celestino), os cantores populares passaram, a partir da década de 1930, a ser formados pela própria indústria do lazer. 

Ora lançados pelo sucesso no disco ou revelados pelo rádio (apresentavam-se em programas ao vivo, acompanhados por músicos de estúdio), muitos cantores surgiram em concursos realizados pelas próprias emissoras sob o nome de “programas de calouros”. 

Levados ao cinema com o surgimento dos filmes musicais — no Brasil predominantemente revistas carnavalescas, depois chamadas chanchadas —, os cantores da nova era da indústria cultural, de início conhecidos como “cartazes”, evoluíram após a Segunda Guerra Mundial no sentido da identificação com seus semelhantes nos EUA. 

Assim, finalmente transformados em “ídolos”, puderam contar com fã-clubes (“fã” vindo de fan, abreviatura norte-americana para fanatic) e, em alguns casos, com suporte de planejamento publicitário no início da carreira (como Caubi Peixoto na década de 1950 e Roberto Carlos na década de 1960). 

Com o mérito avaliado pelo sucesso, e o sucesso pelo número de discos vendidos, os mais bem- sucedidos cantores de música popular podem alcançar o título de Rei, como aconteceu com Francisco Alves, chamado o Rei da Voz, e Roberto Carlos — simplesmente o Rei —, ou até mesmo ir além da realeza, como foi o caso de Elisete Cardoso, a Divina. 

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira

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