domingo, 5 de junho de 2011

Folia-do-divino

A folia-do-divino (ou bandeira-do-divino) é um grupo de pessoas (ou bandos, ou ranchos) que percorrem as cidades e as zonas rurais, entoando cânticos de louvação e de peditório, carregando um estandarte com emblema religioso.

Angariam toda espécie de donativos para as festas do Divino Espírito Santo, realizadas dez dias após a quinta-feira da Ascensão. 

O folclorista Luís da Câmara Cascudo afirma que essas festas ainda existem nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, Goiás etc.

O bando se compõe apenas de homens, pertencentes a irmandades católicas que têm o Espírito Santo por patrono: um ou dois violeiros, encarregados dos cânticos, dois meninotes que tocam pandeiros e ferrinhos (triângulos), e às vezes um tocador de caixa; um porta-bandeira, que leva o estandarte em que está representado o patrono, chamado bandeireiro ou alferes-da-bandeira; um irmão encarregado da coleta de donativos, e um grupo de indivíduos que simplesmente integram o rancho.


Em alguns lugares faz parte do grupo também um salveiro ou clavinoteiro, encarregado de dar tiros de salva ao aproximar-se o rancho das casas onde vai pedir.

No século XIX, o Imperador do Divino, geralmente uma criança, participava das folias, que acompanhava, ladeado por dois irmãos da confraria. Hoje o Imperador é quase sempre um adulto, o festeiro, indivíduo encarregado de organizar a festa e prover às suas despesas.

Ora o grupo todo, ora os violeiros, ora os meninos instrumentistas aparecem nas descrições com o nome de foliões. Com essa formação, as folias percorrem as localidades, entoando cantorias de pedido e de agradecimento.

Os devotos da assisténcia beijam a bandeira e entregam a esmola. Quando anoitece, o grupo se dirige à casa que lhe dará pousada. Lá é recebido com bailes e banquete, tendo lugar a apresentação de danças regionais. Quando a folia entra, há a cerimônia da entrega da bandeira ao dono da casa, para que seja guardada até a manhã seguinte. Ao recebê-la, o anfitrião beija-a e passa-a à esposa, e a seguir às outras pessoas presentes, para que repitam o ritual. Em seguida, o rancho canta os louvores ao santo e o pedido de pousada. De manhã são feitas as despedidas: o anfitrião devolve a bandeira ao bandeireiro, depois que os presentes já tenham oferecido as esmolas. Aí, o rancho entoa os agradecimentos e parte.

Em certas regiões de beira-rio ou beira-mar, em São Paulo, o peditório das folias é feito em canoas. Assim, em cidades como Tietê e Piracicaba, a parte mais importante das folias-do-divino é a cerimônia de encontro de dois bandos precatórios, um que sobe, outro que desce o rio, que se realiza no porto da cidade, no dia seguinte ao do regresso deles e véspera da festa. Para a cerimônia, tomam lugar nas canoas o festeiro, o padre e uma banda de música. Depois do encontro, desembarcam todos, e a irmandade segue com o povo, o festeiro e o padre para a igreja, onde se reza um Te Deum.

Nas folias-do-divino em Atibaia, o Rancho é composto por seis ou oito elementos: mestre (voz grave), contramestre (tenor), tipe (tiple), ajudante (soprano), baterias, pandeiros e violas, Os versos cantados são todos quadrinhas, algumas tradicionais. Cada verso é repetido pelos foliões duas vezes, e ao término da quadra há sempre oito compassos de violas e baterias.

É também conhecida como bandeira-do-divino.



Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - 2a. Edição - 1998.

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